sexta-feira, 1 de junho de 2012

Quinta Joamigo


1.     As características do contexto de intervenção e o modo como o projecto lhes respondem

No auge do movimento moderno, o arquitecto Alfredo Matos Ferreira projecta um conjunto de instalações agrícolas e habitação de férias para Barca d’Alva, a Quinta do Joanamigo. Ela está situada no Parque Natural do Douro Internacional, captando toda a paisagem envolvente.
Graças à sua grande simplicidade construtiva, a obra não se anula nem impõe à imensidão dos campos, ela conquista a sua própria identidade – não competindo, mas completando-a. Tal é muito bem conseguido com a aplicação de xisto nos elementos resistentes. Ao mesmo tempo, também é visível uma profunda relação com toda a envolvente do interior para o exterior: na sala, bastante dinâmica devido ao tecto inclinado, surgem duas estreitas aberturas verticais na zona com pé direito mais baixo, que enquadram a panorâmica sobre o rio Douro e dão acesso a um alpendre ainda mais baixo; no sentido oposto, a cobertura, ganha altura, permitindo a existência de um espaço iluminado por uma estreita e longa abertura horizontal que transporta para o interior a linha de recorte da montanha. 
 Deste modo, a Quinta do Joanamigo adequa-se perfeitamente às circunstâncias do lugar, onde a presença humana quase se difunde na imensidão dos campos.



2.     a lógica funcional e espacial da planta que melhor representa o projecto

 
 
Do nosso ponto de vista, esta é a planta que melhor representa a lógica funcional da habitação na medida em que grande parte das divisões estão distribuídas neste piso. Tal permite constatar as diferentes relações entre elas.
A planta está organizada em pequenos núcleos que se articulam organicamente em torno de um espaço central correspondente à zona de vida diurna. A entrada é marcada por um amplo pátio a céu aberto, conformado por muros de razoável altura. Passa-se a um átrio de distribuição e daqui para a zona de refeições que está situada a uma cota inferior à da sala para a qual se abre, tornando-a muito mais acolhedora e reservada. Anexados a esta zona mais movimentada surgem quatro quartos – juntos dois a dois, com uma casa de banho a servi-los. 




3. a lógica funcional e espacial do corte que melhor representa o projecto

 

 Escolhemos este corte pois, entendemos ser aquele que nos permite visualizar e perceber melhor as relações espaciais existentes.
De um modo geral, é perceptível toda a volumetria espacial da casa e a piscina que se encontra abaixo do nível do edifício, não afectando a relação que a casa procura com o rio.
     No interior, este corte permite-nos compreender o funcionamento da sala e os elementos que a ela se articulam. A sala possui pé direito duplo permitindo que se abra, para ela, uma mezzanine. Quanto a aberturas, são perceptíveis dois rasgamentos no alçado principal que abrem para o rio. Do lado oposto, o tecto inclinado permite, a cota superior, uma abertura horizontal que nos direcciona para as montanhas. Identificamos também a acessibilidade ao segundo piso e a relação visual que esta possui com o exterior.



     4. os aspectos do projecto mais próximos dos modelos canónicos do movimento moderno 

Alfredo Matos Ferreira, tendo projectado a Quinta do Joanamigo no apogeu do movimento moderno, procurou sempre a simplicidade na articulação dos espaços e a simplicidade na construção, tentando adaptá-la quer às circunstâncias do lugar quer à função a desempenhar.
Os vastos conhecimentos do arquitecto sobre técnicas de produção agrícola permitiram que as instalações fossem resolvidas com vista ao seu perfeito funcionamento. Deste modo, o projecto desenvolve-se tendo em vista a finalidade – funcionalismo. Ao mesmo tempo, a habitação é conformada por diferentes formas geométricas, apresentando uma volumetria bastante simples. Com isto, torna-se desnecessário qualquer tipo de ornamento na fachada, sem qualquer utilidade. 
    Podemos concluir que os aspectos deste projecto mais próximos dos modelos canônicos do movimento moderno são o funcionalismo, a falta de ornamento das fachadas e a volumetria geométrica.

  
5. os aspectos do projecto que mais se distanciam dos modelos canónicos do movimento moderno

Neste projecto, surgem também características da arquitectura orgânica que, por serem de carácter regional não se mantêm totalmente fiéis às ideologias modernas.
Tal verifica-se com a utilização predominante de xisto, na cobertura inclinada de duas águas e no uso limitado de vidro. Com isto, a quinta fica mais protegida do clima rigoroso – pluviosidade elevada e temperaturas baixas. Em contrapartida, tais características fornecem um ar robusto e sólido à habitação, tornando-a num elemento harmonioso.
Esta obra não vai ao encontro de uma arquitectura leve e branca, de modo a dissolver-se no ambiente envolvente. Ela surge como um elemento da paisagem. Ao mesmo tempo, o uso de uma cobertura plana e de uma fachada livre parecem ao arquitecto desadequadas pois não oferecem a mesma resistência às oscilações climatéricas.